Inúmeras vezes fui questionada sobre isso: "mas fica todo mundo junto?", " Tem portaria diferente pra quem tem convênio? ", " o Sofia é ótimo, ruim é o pessoal que frequenta", e por aí vai.
Eu poderia tratar deste assunto por vários vieses: social, racial, chamar as senhoras de coxinhas, lembrar que saúde é direito de todos, que o Sofia é referência na América Latina... Mas meu recorte é psicológico. Mesmo assim, não vou falar dos possíveis traumas causados a detenta pelos olhares de rejeição. Como Doula, meu foco é você que está gravida ou é parceiro/parceira de uma gestante e que começam a vislumbrar um local para o nascimento. Peço que leve em consideração esta questão: O que nossas atitudes ensinarão aos nosso filhos?
OK, você tem razão, o Sofia não tem lanchonete para toda família, não tem shopping ao lado, não tem janela com tela de plasma para assistirem ao parto, não distribui champanhe aos convidados do evento e se você parir no hospital dividira alojamento com mais três ou quatro mulheres, seus bebês e seus acompanhantes. Para você, parece muita gente? Então você me diz: _mas é um momento especial, único, temos direito a privacidade.
E eu te digo: _Não perca a oportunidade de aprender e evoluir em todos os momentos. Conviver com a diferença significa não só tolerar o outro mas também suportar a própria exposição. Ninguém quer mostrar suas próprias sombras. Revelar aos espectadores sua dificuldade na primeira pega da mamada, ter parido e continuar com a barriga, ter que discutir com sua mãe na frente de todos, porque não tem espaço para colocar a caixa de lembrancinhas. É a feiúra nossa de cada dia! Ou você queria só a beleza do parto? Queria né! Mas nada é só belo, nem nós, nem os outros, nem nenhuma situação. Fugir das incompletudes nos torna esvaziados de sentidos. Nós só buscamos a luz por causa da sombra. Encare suas imperfeições projetadas nas diferenças alheias. As senhoras, do início do texto, me tocaram por que eu me identifiquei. O mesmo desprezo que sentiram pela detenta eu senti por elas. E no fundo somos mulheres e mães lutando pelo melhor para seus filhos, todas nós.
Fazer uso do espaço coletivo, que é o Sofia, é um exercicio de cidadania, mas também de desapego a vaidade. seus visitantes não serão recebidos no luxo dos hospitais-hoteis, mas você pode aprender muito sobre compaixão, despreso, amabilidade e rispidez. Tudo isso olhando apenas para si e percebendo quais reações as diferenças e as semelhanças humanas provocam a sua alma. Basta tentar! Aí sim, nossas atitudes dirão aos nossos filhos que nós não somos completos e ninguém o é, mas estamos aí, na luta por uma vida melhor da concepção até o fim.
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