quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Como pari meus medos



Se um evento da vida te causa perplexidade, te deixando sem palavras para descrevê-lo, acalme-se. Nossa psiquê tem um mecanismo pra lidar com isso. Comigo foi assim em relação ao meu parto. Se alguém da ouvidoria do Sofia chegasse pra fazer uma pesquisa de satisfação, momentos antes do bebê nascer, eu responderia: PQP QUE TREM SOFRIDO!


Todo evento dessa natureza, exige de nós um tempo de elaboração. Como diria Freud é preciso: "Recordar, repetir e elaborar". Por isso cenas do parto nos vem a memoria o tempo todo. Para darmos um contorno simbólico ao que se passou. Existem pessoas que esticam algumas das fases e precisam de ajuda para concluí-las.


Ao elaborar o meu parto, agora depois de quase dois anos, percebo que precisei de tudo aquilo. Foram três dias em pródomos, 12 horas em trabalho de parto e duas doses de analgesia. Esse tempo não foi para o nascimento da Isabelle. Esse tempo foi pra mim. Eu precisava, antes de trazê-la ao mundo, parir meus medos. Medo de não ser boa mãe, de não conseguir amamentar, de não sustentar valores para aquele novo ser. E eu os pari, um a um. O expulsivo não demorou 10 minutos. Apesar da minha percepção de terem sido duas horas. Assim que eu a peguei em meus braços eu era uma mulher/mãe destemida. Eu cuidei dela com a destreza de uma parideira do interior, dessas que já estava no seu 16º filho. Cuidei do umbigo, dei todos os banhos, cortei as unhas. Rsrsrs Parece pouco cortar as unhas, mas quando se vê 20 dedinhos minúsculos com unhas que parece papel de seda a coisa muda de figura. Pois eu as cortei. Inclusive, em certa ocasião, cortei a pele do dedinho junto e embora eu tenha morrido um pouco naquele dia, ela, pasmem vocês, não morreu! Não se paralisar com o medo não garante aceitabilidade, mas garante que você vai viver.

Agora com o segundo, vez ou outra vem alguém testar meu destemor: "ishi, você vai sofrer com o ciume quando esse nascer", "Deus do céu! Mulher grávida não pode amamentar, mata o BB da barriga", "Dizem que o parto do segundo é ainda mais doloroso". E eu? Agradeço ao universo, desta vez já estou parindo os medos prematuros.

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