quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Relato de uma não doulagem




Natália me procurou por indicação de uma amiga em comum. Pediu informações sobre parto normal, contou que tinha feito uma cesárea há alguns anos atrás por falta de dilação e bacia estreita (abaixo do texto bases científicas sobre esse equívoco de diagnóstico). A sentença foi dada antes das 40 semanas e do trabalho de parto. Agendou-se a cirurgia. O obstetra era o tradicional médico da família e novamente era o titular nesta nova gestação.

Eram tantos questionamentos dela que o espaço virtual estava pequeno. Sugeri a leitura do meu blog e outros textos e um encontro presencial para falarmos sobre suas dúvidas. Como ela iria ao Sofia para conhecer o hospital, eu me dispus a encontra-los lá. 

Ela estava no início do nono mês e despertando para o mundo do parto humanizado. Todas nós sabemos, em maior ou menor grau, como é difícil se livrar das amarras do sistema, sobretudo com a gestação avançada e os medos peculiares a esta fase. Aquelas frases que sempre ouvimos da mães que chegam a nós como primeira referência a humanização, foram ditas: "mas eu me sentiria mais segura com um médico na sala", "E se eu escolher o parto normal e alguma coisa de errado acontecer?" Nada que nenhuma mulher que cogitou o parto humanizado não tenha sentido em algum momento, mas a frequência destas sentenças nos mostram o poder modelador do sistema cesarista.

A visita foi bem tranquila e marido e esposa fizeram perguntas a mim e a ouvidora que nos apresentou a instituição. No final fiquei com a sensação de que ele gostou mais do que ela. A angústia em como deixar o antigo GO estava fortemente presente na Natália. Fiz minhas colocações e deixei que o tempo assentasse o medo e aflorasse o empoderamento.  

Fui para casa feliz porque não há assunto que me deixe mais satisfeita do que falar sobre parto. Ainda mais com alguém que se inicia neste tema. É lindo e tenso perceber, como Psicóloga, como as pessoas reagem as mudanças. Encanta-me poder participar deste processo de transformação e me transformar junto com ele. Mas esse caso me reservava muito mais do que a posição de observadora.

Natália recebeu de uma amiga uma indicação de um médico humanizado que atendia pelo convênio e em uma maternidade privada. Marcou consulta e adorou a acolhida. Contudo o médico pontuou que ela não poderia me contratar pois a maternidade só aceitava as doula já cadastradas. Passou nome e contato para um novo vínculo. Essa é uma conduta questionável por todos os lados, mas falemos disso outro dia, o foco aqui é outro.

Assim que chegou em casa Natália me contou desta nova realidade, ainda pesarosa por me dispensar. Tudo que eu a disse se resume em estas frases, quer foram ditas de coração: Não se preocupe, doula é solução e não problema. Vai dar tudo certo! Estou feliz por ter conhecido vocês.

 A noite, durante a meditação, esse tema me veio a mente; Quando a primeira mensagem da Natália apareceu na minha tela era eu quem procurava uma resposta, de cunho espiritual. E ela me deu. numa sintonia divina, impressionante. Foi ela que veio me guiar, me doular, me orientar.
Ao mesmo tempo em que eu fui contactada pela Natália, eu me preparava para duas grandes mudanças: parir meu segundo filho e logo depois, me mudar de estado. Sim, estou me retirando para São Paulo.

A convivência com a Natália me fez atentar para algo importantíssimo em períodos de mudança: se apegar e se desapegar. Acolher aquilo que o universo nos mandar e deixar partir aquilo que deve ir. Sem sofrer, mas grato pela presença. Por mais que eu ame estar entre gestantes, e sobretudo, por mais carinho que a ideia de doula-la me trouxe, era preciso consentir que essa tarefa fosse dada a outra Doula para que eu expandisse esse ensinamento a instâncias diferentes da minha vida. Desapegar não significa se desligar. Eu não me desliguei da Natália, talvez agora estejamos ainda mais sintonizadas. Esse episódio me preparou para outros desapegos maiores e mais fortes: a distância física da minha família, dos meus amigos, dos meus vizinhos, do meu trabalho, das minha doulandas, da gravidez... O desapego é um convite a abrir mão da lamuria que nos toma tempo e energia e conscientemente criar espaço na mente e no coração para a chegada do novo. O futuro não se sobrepõe ao passado,mas nunca se acessa o presente se não desapegarmos do luto de avançar na vida. Eu estou plenamente aberta ao destino que esta mudança me reserva, por que o futura chegará de qualquer forma, mas será mais amigável se eu bendizer o presente. Obrigada Natália, você me ensinou que deixar ir é deixar que eu vá. Em oração estarei com você todos os dia.

 Aeee galera de SP, tamos chegando!

Links pertinentes
http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Lições de Psicologia à Assistência ao Parto ou sustos de uma acadêmica


Essa história que eu vou contar aconteceu comigo quando eu era acadêmica de Psicologia num Hospital Oncológico. Num feriado qualquer, estava eu sozinha no setor e quando terminei o trabalho, desci para a sala da Psicóloga.  Como não tinha atendimentos ambulatoriais naquele dia, o andar, que era antigo e escuro, estava deserto e com um aspecto bem sombrio para a minha imaginação medrosa. Pensei:

_Calma! Vou deixar minhas coisas na sala correndo, pego minha bolsa, mais correndo ainda e saio voando daqui.

Entrei na sala tipo policial do BOPE, olhando para todos os lados antes de avançar, fechei a porta correndo, e fui desabotoando o jaleco na velocidade cinco. Batem na porta. PQP, sô! Respirei fundo, “Coragem mulher!”. Abri a porta e lá estava um ser com o semblante mais cadavérico que eu já vi na vida. Pra testar se eram meus dons mediúnicos se manifestando ou a minha imaginação de” fantástico mundo de Bob” me pregando uma peça, perguntei:

_Pois não, no que posso ajuda-la?

Por um segundo pedi a Deus que ela dissesse:

_ Nada não, boba, foi engano.

Mas...

_ Você é a Psicóloga?

_Não, sou a acadêmica dela.

_Serve você.

Entrou e fechou a porta.

Tremor

_ Preciso que você me responda uma pergunta: Os mortos podem voltar para falar com os vivos?

Tremor x 2

Pensei: desde que não seja pra falar comigo!

Neste momento parapsicológico, respirei fundo, revesti-me de toda coragem e arcabouços teóricos e falei de forma bem original:

_Fale mais sobre isso!

_Minha mãe ta internada aqui e o médico disse que ela não terá muito tempo de vida. Então eu preciso saber se ela poderá voltar para falar comigo.

Meu coração se compadeceu daquela mulher, como deveria ser terrível perder a mãe. Eu não podia nem imagina tal situação. Um lampejo de pena passou por mim, mas eu não permiti que ele se instalasse. Repassei na mente todas as aulas, a análise e as supervisões  para entender que não era sobre o meu prisma que eu deveria atendê-la. O Sujeito daquela sessão era ela e não eu. Se eu fosse me basear pelos meus sentimentos eu a abraçaria e choraria seu pranto. Mas ela buscou uma psicóloga e o meu papel era de escutar e não falar.

_A Senhora deseja que ela volte?

_ Eu sempre fui expansiva, falava alto, ria alto... e minha mãe passou a vida me controlando. Não ria assim, não fale assim, isso não é coisa de mulher descente. Fui definhando. Um dia perguntei:

_Mãe, a senhora nunca vai me deixar em paz?

E ela respondeu:

_ Nem quando eu morrer!

_ Então doutora, ela pode ou não voltar?


Esse foi um dos grandes ensinamentos que tive em Psicologia. É o sujeito quem significa sua vida, suas experiências, suas dores. O tratamento psi pode ajudá-lo a revisitar estes momentos e ressignifica-los, mas sempre partindo daquilo que ele vê e como ele vê. Se ao invés de ouvi-la eu a tivesse abraçado e dito coisas como: “Não se preocupe, sua mãe estará sempre com você, onde quer que você esteja...” Eu teria pagado o maior mico deste e do outro mundo.

Agora já formada e como doula, percebo que na assistência as gestantes, muitas vezes, não se percebe essa lógica.  Como se todas as mães fossem iguais, como se toda experiência de parto fosse igual. Estabeleceu-se um padrão ouro no qual todas almejam e só algumas iluminadas alcançam e as outras se culpam por não terem chegado lá. Isso é cruel. Quem significa o parto e a maternidade é a mulher.

Para assistir a gestante é necessário partir de um pressuposto muito caro a Psicologia: Iniciamos o atendimento cientes de que não sabemos nada daquele sujeito. NADA! Parece simples, mas não é. Você tem que se desapegar das suas convicções e saberes para entender que na sua frente há um ser com desejos desconhecidos, mesmo que você o conheça.

Agora se você está diante de uma grávida como: ativista, familiar, amigo ou colega de consultório, tente fazer esse esforço de incentivar o protagonismo tendo como base o sujeito e não o movimento. Aí  você me diz, mas ela é minha filha, sei que ela não suportará a dor, ela não tem estrutura para parto normal, eu não tive. Pronto, já se sabe de quem estamos falando. Dê um passinho pra trás, minha senhora e vamos começar novamente, ok?!

Essa é a hora de ser humilde. É a hora de mostrar que tudo que você sabe sobre doulagem, enfermage, psicologia, obstetrícia, pediatria... não servem para nada no que diz respeito aquele ser, se você não permitir que ele fale. Não é porque muitas mulheres tem medo da dor e preferem agendar uma cirurgia que aquela ali na sua frente também vai querer. O parto de cócoras é muito bem indicado pela fisiologia do parto, reduz o risco de laceração, conta com a ajuda da gravidade, ok, tudo certo, do jeito que você aprendeu na faculdade. Mas essa mulher quer parir deitada, posição litotômica. Parece ilógico, parece que você está atirando seu ativismos pela janela, mas não, você está acolhendo  uma pessoa diferente de você. Não se conhece sua vida, seus traumas, suas questões. Respeite o outro pelo que ele é, pelo simples fato dele não ser você.

Ah, menina, se fosse eu transmitia o parto pela internet. Parir é lindo demais! Mas ela não quer. Não quer a doula, não quer o marido, quer a amiga e só. E só. Aceite.
As mães, quando estão assim como você, adoram quando a gente faz encurtamento de colo. Eu enfio os dois dedos e na hora da contração eu empurro o colo pra trás e você faz força pra frente. O bebe nasce rapidinho. Vai nascer aqui na minha mão, quer ver. Vamos lá!

Não, não existe uma categoria “todas as mães”, nem “todos os bebês” ou “todos os doentes”. Existem,, pessoas e mesmo que a ciência universalize o saber, nós não podemos anular o particular. Cada mulher é uma mulher e cada mãe é uma mãe, na vida e na morte.


domingo, 8 de fevereiro de 2015

Destino - Página 2 - O Beta HCG



Antes mesmo de pensar em qualquer possibilidade que ligasse atraso menstrual a concepção,  Madá foi ao salão fazer o de sempre: cortar, pintar, progressivar e escovar. Sabia que se duas listras ordinárias aparecessem numa tira de papel seus cabelos cairiam num limbo entre raiz cacheada e pontas lisas. Melhor garantir a de hoje. Só por hoje. 

O salão é um lugar alheio ao mundo interno e extremamente conectado aos anseios sociais. Já reparou? Quando uma mulher se senta em uma cadeira de um salão de beleza (o singular é proposital) e pega uma revista feminina ela é capturada. Se torna imperativo renovar o guarda roupas (aqui é plural, mas só na quantidade), a maleta de maquiagem, o estoque de sapatos... inovar na cama, no comportamento e no trabalho. 


Nesse mundo do Eu não cabe nós. Ninguém faz nada de novo, mas é preciso estar impecável para ser o mais do mesmo. 30 maneiras de atingir o orgasmo. Mas sem nenhuma conexão entre sexo, vida e crescimento emocional, que dirá espiritual. 


E neste universo paralelo estava Madá, imersa entre uma bolsa amarela e acessórios eróticos pensando em tudo aquilo que não tem, quando a escovista chegou com um espelho para lhe mostrar o serviço.

_Pronto querida, juba domada. Gostou?

Ela nem respondeu, se levantou, jogou o cabelo pra frente, depois pra trás, tipo garota do fantástico, ajeitou a franja e saiu dalí se sentindo única, só faltou a bolsa amarela. Deu cinco passos e logo veio uma cólica chata só pra lembrar que ela talvez não fosse mais una. 

Agora sim, renovada pelo templo da beleza ela poderia enfrentar todos os desafios. Chegou ao laboratório, pegou uma senha preferencial, jogou a franja pra trás e pediu sem medo: 


_ Quero fazer um Beta HCG, por favor. 

Fez o exame e foi lanchar no shopping. Nem tocou no sanduíche. Digitava login e senha sem parar no site do laboratório. Já era quase a hora ir trabalhar e ela ainda não sabia se podia ou não comprar a calça 38 na promoção.

Detonou o milk shake sem ver. Voltou pra buscar outro e na filha deu um enter. 
_Batata! Quero dizer, milk shake!
_hum? Disse a atendente
_nada não. 

Saiu da fila, pegou a bolsa e caminhou  arrastada. Todo peso do mundo cabia nas suas costas.

Ao passar pelo porta de saída percebeu que chuviscava. Pegou a sombrinha que sempre estava na bolsa. Mais 20 passos e céu desabou num temporal impressionante. Parecia que as nuvens choravam seu pranto. Sim, ela estava grávida. 

Chorou sem parar, andou sem parar. E sem parar de pensar, no fim não podia não lamentar a chuva no dia do salão. Sacanagem! 


O céu inteiro escureceu. Raios, trovões e a lembrança de só ter sido contratada por ter boa aparência e não ter filhos. Nada disso duraria por muito tempo. Não podia se imaginar como uma cobra que engoliu um bezerro. Aquela calça 38 tão cedo lhe serviria, se é que um dia irão lhe servi qualquer coisa do seu guarda roupas. E as 30 formas de se atingir o orgasmo? Como pode uma mulher grávida transar? E o neném, gente? Ele escuta. E além do mais, quem vai querer ir pra cama com a irmã mais nova da Filó. Oh coitada! 


Logo agora que ela se formou, que tá trabalhando, que vai receber seu primeiro salário. Vai ficar com os peitos murchos? Isso não era justo. 


_Como eu vou contar para o meu chefe? Se meu marido não fosse tao preguiçoso pra usar camisinha. Mas se eu também não fosse tao relapsa com a pilula. 


Tinham mais raios e trovões dentro da cabeça dela do que no céu. Foi assim até chegar a clínica de Hemodiálise. 


Entrou no salão, ouviu algumas piadas dos pacientes por estar molhada e no final do corredor esta Iara. Braço esticado, cheio de marcas que denunciavam seu longo tempo de tratamento. Tinha a blusa levantada até a altura dos seios expondo aquele barrigão de sete meses. Ela estava com fone de ouvido. Escutava um mantra para gestantes enquanto acariciava o ventre. 


O primeiro impulso de Madá foi pensar:

_ Abaixa essa blusa. Gastura dessa pança. 
Não sabia bem o motivo, mas a cena lhe pareceu erotizada. Depois teve pena.
Quando se aproximou para aferir a pressão, Iara olhou bem nos seus olhos e disse:
_ Você está diferente hoje.
Madá desviou o olhar e respondeu:
_ Chuva! Não há chapinha que resista. 
_ Não é isso. Nem de longe. Você tá com uma luz. 
Madá logo associou a palavra Luz a expressão "dar a Luz". Um tremor percorreu seu corpo todo. Pensou rápido:
_ Vou sair de perto dessa bruxa buchuda. 
_90x60 sua pressão. Vou reclinar sua poltrona. Sua pressão ta muito baixa. Fica quietinha pra você descansar. 

Nada com um termo técnico e uma mudança no ambiente desfaçada de cuidado para fazer calar um paciente. E Madá logo experimentará essa manobra do lodo de lá. 




links pertinentes

Produtos químicos para gestantes e lactantes
http://www.denisesteiner.com.br/ginecologia/produtos_%20quimicos_capilares_e_gestacao.html

30 formas de atingir o orgasmo
www. hahahahaha, mentira que você achou que ia fazer isso aqui??? Não vamos criar regras para a sexualidade de ninguém, não é mesmo. 


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Destino - página um. O início da História




A moça desta história, Madalena, mora em Belo Horizonte, ela adora a cidade apesar de achar que se tivesse praia seria melhor. Ela se casou, mas ainda mora na casa dos pais. Seria ótimo se eles não dormissem tão tarde. Trabalha de vendedora no Shopping, a comissão é excelente, pena que as promoções para funcionários a consomem. E nesta vida quase boa ela está preste a se formar enfermeira. Não foi fácil chegar ao último período. A faculdade quase foi fechada por irregularidades no currículo, mas os juros das mensalidades atrasadas sempre cumpriram assiduamente sua função: a de lembra-la que não podia gastar R$ 200,00 reais numa calça jeans sem sofrer as consequências disso.

 Enfim, chegou a formatura. Era tanta angústia junta: medo de não ser uma boa profissional, de não conseguir disputar uma vaga com quem fez uma federal, de ser humilhada por médicos no trabalho... Todas as questões eram pertinentes menos a de ter uma diarreia durante o discurso como oradora. Sim, ela estava se borrando. Eram tantas questões passando pela sua cabeça que ela não podia mais se concentrar no trabalho. Logo, foi mandada embora. E ao subir no púlpito para discursar levou consigo o peso de uma desempregada que ainda mora com os pais aos 30 anos e não sabe o que fazer para pagar o financiamento estudantil. Ela não evacuou, mas chorou.

Uma semana após a formatura ela recebeu uma ligação para comparecer a uma entrevista de seleção. Era uma clínica de hemodialise. Como ela passou boa parte da faculdade fazendo estágios rápidos amontoados pelo trabalho na loja, nunca tinha nem entrado num salão como aquele. Mas, bora lá.
Passou na entrevista do RH e na temida entrevista com o Dr. dono da clínica teve que ouvir que a pouco experiência não era problema pois ele tinha um perfil que compunha bem o quadro da clínica: era branca, bonita e não tinha filhos. Pensou: oportunidade não se desperdiça! E lá foi ela furar fistulas no segundo turno da diálise.


Imagem retirada da internet
Tudo naquele lugar a impressionava: o cheiro de ureia, o tempo de duração do procedimento, a história de vida das pessoas. Madalena passou parte do primeiro dia agradecendo a Deus por ter rins perfeitos e a outra parte pensando que nunca mais consumira sódio.
Quando tudo já parecia bem impactante ela viu uma cena de amargar: não dava para acreditar, mas tinha uma moça grávida na máquina.
_Meu Deus como ela consegue passar por tudo isso, todos os dias?! (Gestantes que fazem hemodialise devem se submeter ao procedimento 6 vezes por semana)
Se a rotina de 4 horas de diálise, três vezes por semana já a assustava, era inimaginável alguém planejar engravidar e passar por isso todos os dias, durante nove meses.
_ Moça doida! Pensou ela.

No dia seguinte, mal abriram o salão e entrou a grávida, andando estranho. Sentou-se na poltrana e sorriu pra Madá.
_Tudo bem Iara?
_ Tudo ótimo Madá! Estamos cada vez melhor!
Madá sorriu enquanto pensava:
_ Como pode estar "melhor"? Ela não capta os riscos de estar grávida e ser dialítica?
Mas não satisfeita, Iara estica a conversa.
_ Hoje eu fui ao pré natal e minha enfermeira afirmou que está tudo indo bem para o meu parto normal.
Madalena quis morrer neste momento. Não dava mais pra segurar o sorriso amarelo. Ela passou quatro anos da faculdade ouvindo e vendo os riscos do parto normal para uma mulher saudável, imagine só para uma pessoa com uma doença crônica.
_Mãezinha, (sempre achou fofo quando via seus professores se referirem assim as pacientes grávidas), você não tem noção do que está falando. Quer que seu filho seja doente como você? Pra quê uma mãezinha sem rim vai se submeter a dor e a incerteza de um parto normal? Já não basta ser furada todos os dias?
Iara também não sorria mais.
_Eu não sou mãezinha, sou mãe pra C#$!@$, e você devia estudar mais para evitar falar tanta besteira.
Choque. Mulher falando palavrão já é tão feio, grávida então é imperdoável. Não falou nada, mas passou o caminho pra casa todo praguejando: Sou formada, Querida! Quando tiver um filho deficiente vem atras da enfermagem pra passar sonda, mas não ouve quando a gente fala.
Em casa não conseguiu comer. A dor de cabeça era forte, só não ganhou do sono que ultimamente tem tomando conta da sua vida. Acordou de madrugada com a boca cheia de saliva. Estranho. Foi ao banheiro, na volta passou na geladeira e comeu feijão gelado com pão francês. Esquisito. Acordou com cólicas que deviam ser menstruais se ela não estivesse com 14 dias de atraso.












Links pertinentes

Cartilha de direitos dos pacientes Renais Crônicos
http://www.portas.ufes.br/sites/www.portas.ufes.br/files/Cartilha_FDV_Direitos_Pac_Renais%20Cr%C3%B4nicos.pdf

Dissertação de mestrado em Nefrologia: A gestação em pacientes renais crônicos
 http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/6203/000482407.pdf
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/6203/000482407.pdf