quarta-feira, 11 de março de 2015

Há dias em que a gente se pergunta: o quer Deus que de mim?

Essa conversa começou enquanto eu dormia e até agora não terminou, porque eu não paro de pensar nela.

_ Estou me sentindo como se um foco de luz fosse jogado sobre mim. Iluminando tudo. Não há mais nada a ser escondido. Todos os meus defeitos e todas as minhas potências foram escancaradas a mim.

_Você ama muito a sua família, né. Isso é Legal! Mas nem tanto assim, fala a verdade. Eles não são os únicos do mundo sabia? Há outros que precisam do seu amor e dedicação.

Aí eu falo:

_Ah gente, nem faz tanto tempo assim em que eu alcancei a paz entre todos nós. Estamos tão felizes juntos.

_ Ah mais que bom que alcançou! Isso é realmente bom. Mas e agora? A vida segue, né. Você veio ao mundo para evoluir não é? Ou vai ficar nesse regozijo "eterno" e parar sua expansão?

_Uai, pode não?

_ Pode. Sempre pode. Mas é por isso que você reza todas as noites? Ta satisfeita em se resolver no seu mundinho?

_ pqp, você é insistente!

Silêncio. Retomo:

_ Mas tem que deixar todo mundo indisponível ao mesmo tempo? Tem que me colocar no momento mais frágil e vulnerável possível? Tinha que ter crise alérgica, que fazer contrações com 26 semanas? Deixar minha filha sem o mama?

_ E desde quando gravidez é vulnerabilidade? Gestar é criar, é potência, é força dobrada! Porque você precisa tanto de amparo? Como vai ter noção da suas habilidades internas se está sempre cercada de pessoas que lutam por você? E o principal: foi você quem pediu por isso, lembra: " parir meus medos prematuramente, amém "?

_ Ah era, sim. Os medos, não o bebê!

_ Esqueceu que tudo tem um propósito? Que cada ação tem a intenção clara de fazer você evoluir? Que a ascensão de um é a elevação de todos? Não se prenda ao velho, mesmo que ele seja recente. As conquistas vem, mas também não são eternas. É tempo do novo. Tudo deve ser elevado, modificado, melhorado. Não resista! Entregue-se ao propósito da sua alma e ilumine a todos a sua volta.

É aí que eu digo que cada um tem o anjo irônico/psicanalista que merece.





quinta-feira, 5 de março de 2015

Não contrate uma doula

fonte: http://wordbia.blogspot.com.br/2011/01/way.html

O Hospital Sofia Feldmann é uma fonte inesgotável de inspiração pra mim.A cada visita rola um texto novo.  Segunda fui até lá. No caminho eu fiquei meio desconcertada. É estranho ir ao Sofia e não trabalhar. Mas nesse dia a gestante a ser atendida era eu. E quem disse que doula não trabalha no meio de um monte de barriguda?!

A consulta demorou horas e aproveitando esse tempo, a fisioterapia do hospital promove uma roda pra compartilhar experiências e informar sobre parto, prevenção de laceração e etc. Como eu era a única que já tinha parido entre as gestas presentes a fisio pediu que eu contasse como foi o meu parto. Todos foram muito receptivos a minha fala. 

Entre os presentes havia um casal com 33 semanas, participativo, integrado e bem informado. Quando questionados se teriam um doula eles disseram que não. Para espanto de todos. Os argumentos para a não contratação eram claros para os dois: não havia espaço físico e emocional para mais uma pessoa na cena do parto. Ela seria acompanhada, além do marido, pela irmã. Como eles não fizeram vínculo com nenhuma doula até então, não viam sentido em incluir mais alguém após as 30 semanas. Todas as informações que obtiveram foram de modo independente e por cursos. Como eu já tinha me apresentado como doula senti no ar que todos esperavam que eu me posicionasse para convence-los dos benefícios da Doulagem. Eu escutei e só. Uma das gestantes, irmã de uma grande e linda doula militou em favor da categoria, uma fofa, mas foi em vão. Quando eu finalmente resolvi dizer o que pensava ela foi chamada pra consulta. Isso sempre acontece comigo. Então se eu não posso falar faço o quê? Escrevo, né.

As estatísticas de uma pesquisa qualitativa e bem embasada nos dizem que ter uma doula reduz em 50%  o risco de uma cesárea. Isso é, alguém testou em um grupo de mulheres a atuação de doulas, compilou e analisou os dados e depois fez deste um saber universal. OK? OK! Agora vai o conselho que eu queria ter dado a eles: Não contratem uma Doula. A lógica do parto humanizado é subversiva a ciência tradicional, apesar de fazer uso dela. Mesmo que a ciência me dê subsídios para acreditar que é melhor ter uma doula do que não ter, neste caso, recomendo que não tenha. A humanização é império do particular em detrimento ao universal. É a mulher quem faz suas escolhas. Então se ela diz que não quer uma doula, vamos respeita-la. Pq? UAI, o parto é dela. Há que se cuidar do efeito massificador que os grupos de pares podem ter: que se siga o grupo sem avaliar se aquela escolha de fato faz sentido. 

Se tem um ponto pacífico entre os militantes do parto normal é a doula. Se VC pedir um conselho a qualquer um dos papas da humanização, tipo: "Quero um parto normal, por onde eu começo?" 99,9% deles te indicará contratar uma doula, porque é sabido, como diz Ana Cris Duarte, obstetriz, nós "sabemos dos paranauês". Mas não faça essa e nenhuma outra escolha para o parto baseado no saber racional. Ele é importante, claro que é. Mas não se exceda nele, porque a ciência também é uma construção social. Tenha-a como  parceira, mas não como norte. Ninguém precisou provar com pesquisa dublo cego rondomizado os benefícios da amamentação as nossas avós. Elas simplesmente sabiam disso, era natural. Hoje somos mais racionais e vez ou outra alguém precisa nos lembrar do número de doenças que podem ser evitadas com o aleitamento exclusivo e o prolongado. O engraçado, pra não dizer trágico é que, no Brasil, a média de amamentação é de 54 dias. A mesma sociedade que produz o conhecimento de que amamentar é bom não protege nem tão pouco valoriza a mulher que amamenta. A ciência é parte de nós. Tem suas lacunas, por isso não podemos nos guiar só por ela. E agora José e Maria?  Escolha com o coração. Ouça sua intuição! Ela é o melhor termômetro que existe. Além do mais este é o grande barato do parto normal protagonizado pela gestante: fazer as próprias escolhas e se responsabilizar por elas. Para parir ou não, para amamentar ou até para ser mãe ouça sua voz interior.  Isso é humanização.