quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O fantasma comédia do puerpério



Eu tinha acabado de parir minha filha, tava em êxtase com o parto normal, mas muito cansada. Quando grávidas ficamos loucas para o bebê nascer e além de curtir a cria, descansar do período da gestação. Piada isso! E aí que a gente se engana, porque você não só não descansa como dublica suas tarefas entre fraldas, mamadas e arrotos (do bebê).Tudo isso fica muito mais leve se você tiver ao seu lado alguém de confiança que dê suporte logístico com a casa e carinho ao coração. Eu tive e foi a minha mãe. Ela veio para o meu apartamento de mala e cuia de ótimo grado.

Como eu estava casada a pouco mais de um ano o quarto de hóspedes não estava pronto, como não está até hoje, mas para acomodá-la colocamos um colchao na sala que tinha TV e uma janela grande para melhor ventilação. Ela passava o dia cuidando da casa e eu da Isabelle. A noite
ela pegava minha filha e eu ia pra cozinha fazer o jantar. Era uma troca boa porque ela babava a neta e eu renovava as energias no fogão. Depois eu ia para o meu quarto, amamentava, punha pra arrotar, colocava a Bebelle pra dormir e ia pra cama também. Minha mãe sempre ficava um tempo a mais acordada, no tablete, postando fotos da neta.

Neste dia, Bebelle já tinha mamado nos dois peitos, proferiu arrotos dignos de campeonato e nada de dormir. Era por na cama e ela acordava. Pensei: vou leva-la pra sala, quem sabe lá ela dorme. Assim o fiz. A luz tava apagada. Quando cheguei na sala dei um tchausinho pra minha mãe me ver e não fazer barulho. Mãe de recém nascido tem tanto medo de barulho, ne. Ela me olhou com uma cara estranha. Sentei-me no sofá, na ponta oposta e fiz um sinal. Ela fez que viu e parecia fazer força pra continuar olhando pro tablete. Uai, que isso, mãe, pensei, ta com raiva?
O vento da janela tava de mais para a bebê, mas ela não olhava pra mim pra eu pedir pra fechar. Balacei a fraldinha de boca pra mexer com ela e a danada estatelou o olhar no tablete, sem nada ver. Continuei acenando, mais forte e ela virou o tablete pro meu lado. Tá louca, mãe! pensei.
Ela se benzeu com o nome do pai, encolheu as pernas e pôs o tablete na frente do rosto. Oh meu Deus, que coisa esquisita é a menopausa! Será que ela não ta me vendo. Só aí percebi o óbvio, ela tava sem óculos, num encherga nada sem ele, mesmo que eu esteja de vermelho. Joguei nela a fralda. A mulher cantou cavaco deitada, deu três rodopios com duplo twist carpado e caiu de pé. Chamou todos os santos da ladainha e quando viu que era eu proguejou todos os anjos caidos.
_oh praga é você! Quase me joguei da janela! To vendo esse volto vermelho sacudindo um pano branco. Achei que trem ruim.
Hahahahahaha

Caímos numa risada sem fim. Acordamos a Isabelle, mas valeu a pena. Era a endorfina que precisávamos para quebra o gelo do puerpério. Quando você chega do hospital com um bebê parece que tudo é solene, sério e eterno. O primeiro banho, o umbigo que cai, os primeiros sete dias... O humor nos ajudou a dialetisar esse momento e a percebê-lo como vital, mas também divertido. Fazer graça dos equívocos de comunicação dissipa a ansiedade que todos sentem pela vida nova.
Se por aí o clima ta tenso e a ansiedade anda deixando todo mundo cego, pense em introduzir dose homeopáticas de risada. A fralda de cocô caiu com o recheio virado pro chão: Ri! Seu marido lavou as roupas rosas com as brancas e agora todas são rosas: Ri! A visita deu doce na boca do seu bebê: RI não porque isso é muita sacanagem e "rir de tudo é desespero", que também é legitimo.
O humor não é uma fuga, mas pode ser uma arma imbatível para harmonizar as relações. Tente! E você, tem histórias engraçados para contar do puerpério?

Obs.: agradeço a minha mãe, Graça, fonte infindável de humor na nossa família.
Dedico este texto a minha doulanda Simone Bibiano, pois este texto surgiu de uma das nossas conversas.


2 comentários:

  1. Respostas
    1. Que bom que gostou Alessandra! Que VC leve esta energia leve e descontraída para a chegada do Pedro. Bjs e boa hora!

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