quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Como desatar os laços da supervisão constante sem desligar o amor?


Outro dia, eu acompanhava uma gestante na casa de Terapias Integrativas do Hospital Sofia Feldman e enquanto ela recebia um escalda pés eu conversava com outros acompanhantes. Como também estou grávida, o assunto não podia ser outro além de filhos. A mãe de uma gestante me falou uma frase que ecoou nos meus ouvidos: "Quando os filhos são pequenos nós somos protagonistas mas, quando elas crescem nós nos tornamos expectadores".

Porra! Expectadora! Pensei. Será esse o futuro que me espera? Pensei na minha mãe, lembrei da minha sogra e de outra mulheres mães de filhos adultos. Refleti sobre esse lugar da mãe na terceira idade e principalmente sobre o lugar que eu quero ocupar quando eu for mãe da mãe.

Como será estar inteiramente integre a um ser e depois deixar de estar? Se num primeiro tempo a mãe está totalmente conectada ao bebê, como desatar os laços da supervisão constante sem desligar o amor? E mais, como ocupar o espaço antes inteiramente tomado pela maternagem?

Cada sujeito encontrará suas saídas. Contudo, uma reflexão a respeito seja fazer uma distinção entre dedicação e amor. Se associarmos que o amor dos filhos estão diretamente ligados aos cuidados que damos a eles essa transição talvez nunca se faça. Uai, se o menino me ama porque eu faço tudo por ele, vou continuar tirando a cebola da salada dele, no auge dos seus trinta anos.

Mas se o amor e cuidado são uma coisa só para um recém nascido, ao tornar-se adulto o cuidado constante é para a sobrevivência de quem? Querer ser protagonista na vida de outro adulto é uma tentativa de viver uma vida que não lhe pertence. E digo mais, porque hoje tô mau que nem o pica pau, nunca lhe pertenceu. Putz! A magia das mães não é a onipresença, mais a paciência de revisitar sua vida na do filho e saber que esta não é a sua.

Inevitavelmente a gente se vê nos filhos. Relembra as escolhas dos nossos pais, as nossas próprias ações e se o passado for de dor toda recordação trará consigo uma sensação de que as coisas podiam ter sido diferentes. E no intuito afoito de se diferenciar repetimos os mesmos medos. E toda vez que repetimos, entrando na "roda viva" somos expectadores de nós mesmos. O melhor jeito de fazer o trânsito entre a mãe de RN para a mãe de um ser adulto é não deixar de ser protagonista da sua própria vida, entendendo que na vida alheia, mesmo a do seu filho, seremos sempre expectadores.

E agora, como filha que repete mãe, repetirei uma frase que ouvi da minha Professora Rosana Vieira: "Quando você não tem objetivo de vida, vira objeto na vida dos outros".

Esse texto propõe muito mais questões do que respostas, talvez por ser esta um peculiaridade da autora, mas convido a vocês a pensar junto comigo em soluções possíveis para estas questões. A maternidade também se faz no coletivo. E não pode demorar, porque minha filha tá crescendo!

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